sábado, dezembro 31, 2005

Felicidade


Eu pensei que já soubesse o que é felicidade. Que espanto não foi o meu ao pesquisar na enciclopédia o termo felicidade e encontrar além do habitual significado de alegria ou sentimento de prazer, um outro que nos remete aos princípios da civilização, mais precisamente na mitologia romana. Essa nos conta que a felicidade é uma divindade alegórica, representada na figura de uma rainha em seu trono, tendo um caduceu(um bastão em torno do qual se entrelaçam duas serpentes e cuja parte superior é adornada com asas. É um antigo símbolo, cuja imagem pode ser vista na taça do rei Gudea de Lagash, 2.600 anos a.C., e sobre as tábuas de pedra denominadas, na Índia, nagakals. Também é um símbolo moderno das ciências médicas e contábeis.) em uma das mãos e cornucópia (abundância dos anteriores) na outra.
Vejo nessa simbologia romana algo que muitos buscam em suas vidas até os dias de hoje.

Essa tal felicidade que, para os antigos romanos era representada pelo trono ocupado por alguém que ostentava em suas mãos os símbolos de tudo que buscamos, seriam: saúde, posses(inclusive dinheiro e poder) e a abundância desses.


Na Grécia antiga, a Demócrito de Ábdera, que só começou a ser conhecido em Atenas com Aristóteles, ocorreu o conceito de felicidade como paz da alma. O abderitano usa principalmente o termo paz interior, mas também as expressões imperturbabilidade, serenidade, impassibilidade, harmonia, equilíbrio, bem estar, calma (do mar). É possível recuar até os pitagóricos aos quais eram comuns as noções de harmonia e equilíbrio.


Então vemos que o conceito de felicidade modifica-se de acordo com o freguês. Mas podemos ver o ponto comum que é com o preencher das aspirações e necessidades que somos levados ao caminho para a felicidade.

Pesquisando encontrei um citação significativa de Jean-Jacques Rousseau:
"Tudo muda à nossa volta. Nós próprios também mudamos e ninguém pode estar certo de amar amanhã aquilo que hoje ama. É por isso que todos os nossos projectos de felicidade nesta vida são quimeras."

A felicidade pra mim é imperceptível externamente. Ela está dentro do coração(sentido figurado) do ser humano. Podemos ou não, ver sinais de sua presença. Sorrisos que podem demonstrar alegria ou contentamento, o modo de falar, o olhar de quem a efetivou, a postura, a vontade de viver, etc.
Projetar para o futuro felicidade é loucura, como diz Rousseau, mas ainda não há nada melhor que ser feliz.
Há felicidades momentâneas e coletivas, como na conqusita de uma Copa do Mundo ou do fim de uma guerra. O que era tristeza ou apreensão torna-se o mais puro e espôntaneos dos sentimentos.

Rápida e intensa como o sexo(ou esse faz parte dela?), a felicidade passa, mas a nossa busca por mais felicidade é que nos prende à vida.
A felicidade perpétua não parece estar guardada para os pobres iludidos mortais.

Na atualidade (ou isso já acontecia antes?), a felicidade é utilizada para legitimar todas as nossas ações.
Até parece que em seu nome é justo trangredir todas as normas e regras que permitem a harmonia da convivência entre os indíviduos. A felicidade individual nunca deveria sobrepujar a felicidade coletiva.
Há uma máxima que é muito ouvida por todos os cantos:"Se você é feliz, tudo bem..."


Arthur Schopenhauer escreveu:
"...
ter em si mesmo o bastante para não precisar da sociedade já é uma grande felicidade, porque quase todo o sofrimento provém justamente da sociedade, e a tranquilidade espiritual, que, depois da saúde, constitui o elemento mais essencial da nossa felicidade ..."

Muito pelo contrário dele, penso que a felicidade depende também da convivência do indivíduo com os seus pares.
Poderia um indivíduo ser feliz em absoluta solidão?
Sozinho o ser humano encontra-se vivo, mas não vive.
Compartilhar, trocar, receber, doar são ações que inexistem na ausência de outro semelhante.
Quando alguém toma algum objeto, bem ou pertence, de alguém não é exatamente o objeto que ela quer tomar para si, mas a sua aparente felicidade representada naquele objeto, a qual ele sente que lhe está em falta.
Seria o ladrão realmente feliz?
O ladrão vai em busca do ouro de tolo. Esse nenhuma valia terá para ele. Esse ouro é a água que não sacia.
Possivelmente constatar-se-á nele uma aparente contentação que, no entanto, não tarda a desaparecer.
Já aquele do qual foi subtraído o objeto, não perderá a sua felicidade, mesmo que esse bem venha a fazer falta. Pelo contrário, essa falta será o motivador para ir em busca da substituição do bem perdido, batalhanado e conseqüentemente podendo conquistar até mais do que o precisa, o que trará para si mais felicidade.

Nenhum objeto material porta a felicidade.
Então, o que é e onde está a felicidade?
Não há frase que resuma a felicidade.
A mim parece que a felicidade consiste exatamente em haver algo desejado e degraus pra galgar e
a possibilidade de atingir esse objetivo desejado quando do fim dessa empreitada.
Vencer pequenas batalhas parecem trazer mais felicidade que vencer uma grande guerra e não ter mais pelo que batalhar.

É feliz aquele que transofrma sua realidade da forma que deseja e faz, também, feliz os que o circundam.
Ou seja, aquele que transforma a sua própria realidade tornando a si e outrem feliz e permite que os próximos a si também transformem as suas realidades da forma que desejarem fazendo outros felizes, e assim por diante, será feliz.
Novamente: a felicidade de um depende da felicidade dos outros.
Caminhar em sentido oposto a isso é procurar ser infeliz e fazer infelicidade.
A felicidade depende da entropia. Porém, essa é uma outra forma de verificar isso.
Outra: felicidade é procurar o difícil, pois o fácil já está nas mãos.
O trabalho deveria atribuir mais valor
ao indivíduo que ao que ele produz.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

A vida é uma órbita

Se fosse uma carta, queria começar essas palavras com o tradicional "Querida ..." mas mesmo em carta(que ninguém manda mais) ou e-mail, as vezes gosto de fugir do modelo previamente estabelecido. É como se eu tentasse ir contra o sentido da correnteza. Toda a gente gosta de brincar de escrever o destino. Mas nem mesmo sei se ele está escrito e, se está, resta alguma linha que podemos acrecentar nele.
O certo é que o destino prega-nos peças aqui e acolá.
Em matemática chama-se tangente a uma linha, normalmente reta que toca uma circunferência em um só ponto.
Em astronomia existem corpos que orbitam o sol, possivelmente tamb[em outras estrelas, chamados de cometas. Esses passam periodicamente próximos ao astro rei e mantêm-se perto sem tocá-lo por algum tempo de sua órbita. Mas esse tempo de aproximação é , normalmente, muito curto. Normalmente dias ou poucos meses até que sua órbita o leve pra bem longe. Sua órbita na maioria das vezes o traz de volta muito tempo, anos décadas ou até séculos, depois. Tudo depende da órbita(caminho) que esse é levado a perfazer em torno daquele.

Comparo o nosso encontro com outras pessoas durante a vida, com as coisas da matemática ou astronomia. Diferentemente da tangente que vem do infinito e toca a circunferência, seguindo infinito adiante, a órbita do cometa, sem tocar, segue o percurso de uma elipse, que ora o deixo bem próximo, ora bem distante do sol. Nem tanto a tangente, mais ao cometa que por pouco tempo pôde admirar o sol, mesmo quando esse o aquece, derrete, tira um pouco do seu ser(massa) e acrescenta mais calor a esse. Logo após, o cometa já não será tão frio.
O cometa segue, mesmo que modificado. Entretanto, já não é mais o mesmo cometa!
Somos como o cometa ou como o sol, depois do contato, ou proximidade com outras pessoas, já não somos mais os mesmos.
Cruzamo-nos nessa existência como o caminho percorrido por um cometa ou até como tangente da matemática, que chega a contactar a circunferência. Contudo, logo seguirão cada um o seu rumo. Levamos deles coisas que não esquecemos, outras que nem percebemos. Talvez veremos a vida de uma forma diferente. Melhor?
Quiçás, seja esse o sentimento de que falam os poetas, que poderemos sentir com esse tipo de aproximação.
Podemos nos arrepender de desejar certas coisas. Mas, a mim parece que não há porque arrependermo-nos de amar.

O que é a felicidade se não é fazer alguém feliz?
Não está aí a retribuição?
Não existe felicidade egoísta.
Se quem amamos também nos ama, como no Lego, o encaixe está perfeito.
Pelo pouco que experimentei, penso que a arte de viver tranqüilo está em compreendermos que nem tudo está sob o nosso controle.
Compreender a imperfeição das pessoas e a nossa, saber que somos cada um tomados por desejos e tentações, vontades de experimentar o que nunca foi a nós permitido.

Então quando a vida segue seu rumo, matenhamos a motivação para perseguir o que desejarmos e sonharmos.
Nós não somos obrigados a sermos os melhores, como pregam os capitalistas. Então, não nos cobremos o impossível, não obstante, temos que fazer o melhor que pudermos.
Se somos faxineiros, que tal procurarmos deixar tudo limpinho? Na área da justiça, obrigação de procurar a verdade. A isso chamam dedicação.
Ou seja, fazer bem feito e com consciência tranqüila.

Carinho, esperança, compreensão, paciência, etc. Coisas que o amor pode nos fornecer. Temos que cultivar isso. Não podemos buscar as coisas desse mundo como o principal obejtivo. Fama, dinheiro, sucesso profissional, etc, são importantes, mas não nos farão mais felizes se já não formos. Será que essas coisas valem a felicidade pessoal?
Valem a felicidade dos filhos?
Valem nossa prórpia felicidade?
Temos que buscar essas coisas mas para o engrandecimento de toda a criação e, conseqüentemente, do nosso ser.
Temos que ser nós mesmos.
Não devemos viver de interpretar papéis na vida. Se já nos é tão difícil ser nós mesmos, ser um outro diferente, do jeito que as pessoas querem que sejamos, ainda dá mais trabalho e nos anula.

Não nos desviemos das sabedorias que aprendemos na vida. Procuremos a verdade. Cada qual deve saber muito bem onde a procurar.

Não percamos a simpliciade de criança, mesmo que o mundo a queira mudar. Mesmo que todos desejem nos embriagar com fantasias, não podemos perder a nossa essência. Tomemos cuidado, pois, com as ilusões.
Dependendo do caminho que sigamos, quem sabe seremos o cometa voltando pra admirar o astro rei, ou a rainha...

segunda-feira, dezembro 05, 2005

As diferenças entre amor e paixão

A maioria das pessoas, pelo que tenho notado, sabem bem que paixão e amor são coisas completamente distintas.
A mim não cabe a tarefa de especificar ou quantificar essa diferença.
Quero apenas tentar traçar as mais notáveis características que marcam essa diferença.
Para que o que eu disserte tenha sentido, admitiremos, em princípio, que a paixão e o amor existem.

A palavra paixão vem do termo latino passione, que queria dizer sofrimento.
Na wikipedia encontramos a definição de Paixão como um sentimento de ampliação patológica do amor. Na paixão, o enamorado projeta a sua personalidade no ser amado e se perde nele, como se aquele fosse um pedaço seu que foi embora. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É um sentimento doloroso e patológico, porque , via de regra, o indivíduo perde a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio.
Sendo assim, a palavra paixão nos lembra martírio, o que, em suma, não parece ser uma boa ou saudável coisa.

Ao amor dá-se, desde a grécia antiga, um significado mais nobre. Ao chamar o amor de ágape(há outras palavras no grego para amor), os gregos referiam-se a um sentimento desprovido de interesse do tipo que se tem, ou se deve ter, por outra pessoa, seja pessoa amiga ou inimiga.
Comparo a uma rua de mão única.
O amor, nesse sentido, é uma ligação só de ida do presente com o futuro.
A paixão é uma rua de mão dupla: O apaixonado emite e recebe de volta o reflexo do que projetou e vê apenas o que quer ver naquela pessoa. Por isso, nesse caso, o outro nos parece perfeito.
A paixão nesse sentido é uma ligação com o presente e apenas com o presente. Ao apaixonado o que importa é o agora.

O amor é o "ser-se feliz" em outra pessoa. É ser feliz quando a outra é feliz.
O apaixonado que ser feliz e o objeto de sua felicidade é o outro.

A paixão aparece rápida como o raio que corta o céu. Na paixão o outro não pode falhar. Ele é e deve cotinuar perfeito.
O amor é construído aos poucos e continua crescendo mesmo quando os outros falhem. Há um nível de tolerância admirável.

A paixão pode ser um meio de uma pessoa conseguir algum objetivo da outra pessoa como segurança, carinho, sexo, etc
Na paixão pode-se usar o artifício de máscaras (papéis) pra que se agrade sempre o outro e não o decepcione nunca.
No amor há autênticidade, não há medo de mostrar a imperfeição.

Na paixão nem sempre as afinidades são fortes e definitivas.
Para quem ama, o relacionamento como um todo é mais importante que particularidades da relação como o sexo, saúde ou finanças, etc.