sexta-feira, outubro 21, 2005

Conexões rompidas

Assim como produtos e costumes, há palavras que entram e saem de moda. Entre as que mais vejo citadas nos meios acadêmicos ultimamente estão: interagir, conectar, perceber, navegar e contextualizar.
No mundo que podemos chamar de cibernético, onde cada um tem ligações com outros através de celular, e-mails, telefone, fax, etc, as pessoas nunca puderam estar tão próximas estando tão distantes.
Vemos alguém aqui estando no Japão. Podemos ver e falar ao mesmo tempo. Coisa que era apenas sonho de desenho animado nos meus tempos de criança.
Mas será que isso as faz estarem mais juntas mesmo?
O telefone permite que falem, mas não necessariamente que conversem.
A necessidade de comunicar está explicíta. Pessoas de todas as idades fascinam-se com seus aparelinhos e adoram quando o telefone toca. Percebe-se que isso as faz não sentirem-se tão sós. E, de fato, isso é o que acontece.
Eu mesmo adoro me comunicar. Sou capaz de passar horas a fio no telefone ou internet até o assunto acabar.
Até onde essa distância aproximada ou essa aproximação distanciada é boa?
Nada substitui o contato físico, o olhar no olho, o calor humano ou um abraço.
Muito menos a presença, apenas, substitui a atenção, a preocupação que se deve ter com quem gostamos.
É o que se chama de carinho?!

Quando pessoas de uma mesma família reunem-se em volta da tv estão juntas ou apartadas ?
A que distância realmente estão entre si?
Tem casas com várias Tvs. Aí sim que ficam distantes. Cada qual no seu mundinho de preferências, fechado.
Conversam entre si? Contam ou se preocupam com os problemas umas das outras?
Irmãos, pais, filhos...
Ali, pertinho e nem se falam. Nem nos comerciais.
Ah ! quando falta energia parecem que falam mais!
Voltam aos seus medos interiores. Contam estórias da carochinha ou causos da infância.
Precisamos de apagões em casa. (risos)
Sugiro que apaguem as luzes. Desliguem seus os celulares e tvs. Que os pais conversem com seus filhos. Esposa olhe um pouco pra seu marido. Esqueçam uns instantinhos o homem-amante. Vá em busca do seu companheiro, seu adão. Esposos, vejam a eva que te acompanha. Esqueça essa mulher amante. Nem sempre queremos o animal que existe dentro de nós.
Há tempo para ver cada faceta do diamante. Há hora pra cada papel.
Engana-se quem diz que o amor acaba quando acaba o sexo.
O amor acaba quando nos trancamos em nós mesmos.
O problema é que as pessoas não se abrem. Esquecem de ser elas mesmas.
Abramos os portões de nossa alma. e esqueçamos os papéis de infalíveis que representamos no dia-a-dia.
O super-homem que a todos ajuda e esquece de si mesmo, que não falha nunca e nem diz coisas erradas; a super-mãe que não pode falhar em defesa dos seus filhos, mesmo quando esses já estão barbados.
ops! Pra não ser mal entendido:
Não estou sugerindo que paremos de ser ou de procurar sermos essas coisas que muitas vezes são salutares. Mas não devemos nos travestir de uma armadura que não possuímos e que não é nossa. Temos que separar um tempo nós mesmos e para os nossos mais próximos.

Excesso de conexões, ausência de uma boa conversa

As pessoas nunca falaram tanto e nunca disseram tão pouco.
Há filhos que vivem a sonhar com pais que se preocupem consigo.
Há esposas que clamam por serem atendidas., serem vistas e não apenas olhadas.
Há homens que são desejados bem longe de casa. Incrível?! mas creio que nós já vimos algo parecido!
É a atenção(dedicação) que está em falta. Cutua-se muito o eu (Narciso de novo!)
As pesssoas se acostumam tanto com as outras dentro de casa que não as percebem circulando entre elas.
Vêem mas não as exergam. Sentem a falta quando a perda vem! E, somente aí, vão perceber que já as tinham perdido há muito mais tempo.
O fim da família, eis a arma de destruição em massa mais mortal. Destrói-se cada célula e o corpo perecerá.
O silêncio mais do que nada leva ao esfacelamento das relações entre as pessoas, principalmente na família.

Passado, presente e futuro nunca estiveram tão interconectados. Pelo menos já percebe-se isso agora. Tudo que fazemos é importante. Não desprezemos os mais corriqueiros acontecimentos. Eles influenciam também os mais importantes fatos e podem ser a gota d´água que faltava em certas circunstâncias. De novo: Não esqueçamos que tudo está conectado.
Contextualizar é perceber que um fato não nasce por si só. Nem é um parto solitário, mas faz parte de todo um agrupamento de relações, humanas ou não, interconectadas, cujas ligações são importantes para que entendamos que não estamos sós e não podemos viver sós no meio de todos.
Mais do que nunca, navegar tem exatidão. Porém, no viver não há exatidão.
Em outras palavras, como já se diz há vários séculos, navegar é preciso, viver não é preciso.

2 comentários:

Anônimo disse...
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Noel Irwin disse...
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