domingo, outubro 23, 2005

O eu exterior

Guilherme Arantes esteve aqui ontem. Show em praça pública. Não á a primeira vez que ele vem a Garanhuns, mas foi a única vez que fui vê-lo ao teclado. A apresentação foi como pensava: simples, romântica e, acima de tudo, tranqüïla em todos os aspectos. Canções que seguiram a minha vida desde os anos 80. Elas estiveram presentes nas novelas que tanto assistimos, mas mesmo as que não foram de novelas, transmitem ainda hoje mensagens que se bem ouvidas tocam o coração. A maioria delas sempre enaltecendo o lado bom de viver. Estive feliz lá.
Não sou muito de ir a shows. Não sou de idolatrar astros. Mas permito-me dizer que ele é um dos meus ídolos da música. Mesmo que seus shows não sejam mega-espetáculos. Ele faz mais o estilo de apresenções em teatro. Aprendi a ouvir suas músicas, escutando também as letras. Quiçás esteja aí a explicação para a minha admiração. A referência a ídolo quis dizer ao trabalho musical dele e também ao seu jeito simples e romântico de ser artisticamente. Nada tem haver a pessoa dele, que desconheço.
Me deparei com um senhor de mais idade. Diferente daquele jovem das capas dos Cds ou LPs de duas décadas atrás. Logo lembrei que o tempo também passou pra mim. Eu com menos cabelos, ele com já quase nenhum.
É a vida seguindo o seu curso.

Houveram dois fatos que me chamaram atenção e a todos os presentes.
O primeiro:
O jovem que no festival(concurso) de música tirou em primeiro lugar cantando uma música serteneja. Não aprecio música sertaneja, mas reconheço que ele cantou bem afinadinho. Fez por merecer os 4000 reais. Bem humilde. O fato é que ele nem havia tomado café, almoçado ou jantado no dia anterior e nem mesmo tinha o dinheiro pra poder voltar a sua cidade pra pode pegar uma roupinha melhor pra sua apresentação. Seus minutos de fama foram justos e merecidos.
Desafiou até a fome pra estar lá sonhando acordado.
Oxalá ele tenha oportunidades melhores na vida.

O segundo:
a antítese disso:
a terceira colocada, quando dos agradecimentos costumeiros que são direcionados comumente a Deus, pais, irmãos e amigos e ao público, cometeu, para mim e pra muitos dos presentes, um equívoco ao exaltar a si mesma.
Pode ter sido um descuido da inexperiência e do nervosismo ou mesmo da contrariedade de não ter atingido o objetivo por ela almejado. O que mais ou menos ela citou foi: "... quero deixar beijos e abraços pra uma das pessoas mais importantes pra mim e ,que se não fosse por ela, eu não estaria aqui: eu mesma...". Isso soa estranho não?
Levou vaias.
Fiquei imediatamente envergonhado, pois me imaginei no seu lugar e senti-me como que comentendo uma gafe daquelas, quase imperdoável. Não se pode exaltar esse nosso "eu". Penso assim!
Exteriorizar a auto-estima que, a qual temos o dever de conservar, soa o contrário da humildade. É verdade que devemos ter confiança em nós mesmos. Nos prepararmos para as batalhas da vida e saber que podemos ser capazes de vencê-las, desde que tenhamos anteriormente adquirido todos os conhecimentos e ferramentas pra executar os trabalhos que poderão nos levar a vitória. Mas a auto-estima não pode ser confundida com auto-idolatria.
A mais importante pessoa no mundo somos nós mesmos, entretanto nos reduzimos a nada sem as outras pessoas.
Não existe um 'eu" desligado do resto do mundo. Esse "eu" que chamo de "exterior" só existe na presença do outro.
Ele se funde com o nosso "eu" interior. Um não existe sem o outro.
Vejo que está fora de nós a razão do que fazemos e de nossa existência.O nosso valor vem delas e para elas deve voltar em forma de agradecimento e humildade Ninguém escreve um livro pra ler sozinho. Ninguém compra um carro novo que não seja pra mostrar a outrem. Ninguém guarda uma obra de arte para si em um porão escuro.
Pelo menos nunca conheci alguém assim. O que quero dizer é que o nosso valor quem dá são as pessoas. Precisamos inequivocamente do outro. E não adianta ser Narciso, pois estaremos fadados a definhar e morrer. Falei demais pro meu tamanho.

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